Este domingo (20) é o cair do pano do Campeonato Mundial do Futebol Feminino, certame que durante um mês, na Austrália e Nova Zelândia, juntou mais de 32 selecções de todo o mundo.
A respeito, conversamos com a capitã da selecção nacional de futebol, Cina Manuel, sobre o estágio do campeonato que já está perto do fim e sobre a sua visão em relação a participação das selecções africanas, que terminaram nos oitavos de final, nomeadamente: África do Sul, Nigéria e Marrocos.
Para Cina, a prestação das selecções africanas foi histórica, primeiro, por terem apurado e, segundo, por terem chegado aos quartos-de-final. E é pela primeira vez que um campeonato desta natureza leva três equipas africanas à esta fase, deixando de lado Zâmbia, que não passou da fase de grupos.
Ainda assim, a desportista não descarta o facto do futebol africano se ressentir de investimento, pois, “tem muitas jogadoras com qualidade em África, e seria uma honra assistir as meias finais de uma selecção africana”, mas, enfim, “vamos continuar a lutar porque melhores anos virão.”
O futebol feminino praticado em Moçambique não escapou ao olhar da capitã, que faz uma avaliação negativa, pois, como explica, o desporto-rei, tal como em África no geral, ressente-se da falta de investimento.
“O futebol feminino é valorizado somente quando são competições internacionais. Não temos escolas de futebol, não temos formações mais cedo, o que contribui para que não se chegue até ao nível das outras selecções”, aponta, acrescentando que “seria muito lindo e um sonho para nós como jogadoras moçambicanas estarmos no Mundial.”
Mesmo com esta desilusão, Cina aprecia positivamente o facto de existirem mulheres a praticarem o futebol, mesmo que seja um desporto dominado por homens, pois, assim, as mulheres mostram o seu potencial e igualdade de género.
Cina, portanto, aconselha as outras mulheres que têm talento ou que queiram aprender a jogar “que se juntem a nós, porque com o futebol encontramos muita paz e tranquilidade”, para além de ser um pretexto para “nos abstermos dos vícios que podem nos levar a ruína”. Além disso, prolonga-se a capitã, “pelo menos conseguimos tirar certos complexos negativos que os homens têm sobre nós”.
A atleta estará atenta, neste domingo, para conhecer a campeã mundial entre Espanha e Inglaterra, apuradas na terça-feira e quarta-feira, respectivamente. Cina não quer assistir sozinha, por isso, convida outras mulheres – desportistas e não só – a celebrarem este feito feminino. “Estarei ligada à televisão para acompanhar a maior prova futebolística que nos inspira como mulheres”, confirma.
Cina Manuel começou a praticar o futebol em 2005, um exercício que se profissionalizou no ano seguinte, 2006, no Clube Abelhas Mortíferas de Lichinga. Entre 2009 e 2010 jogou no Clube Desportivo Léo Gasolina e entre 2011 e até hoje é parte do Clube União Desportiva de Lichinga. Em 2008 estreia-se na selecção moçambicana de futebol, com passagens em Pretória e Angola, onde joga até hoje, liderando a equipa.
Troféus e medalhas perseguem a atleta desde o início da sua carreira, tendo sido considerada Melhor Marcadora da Liga Nacional de Futebol Feminino entre 2016 e 2018 e Melhor Jogadora em 2018.