1. Os impulsos mal sinalizados na intimidade e na privacidade dos “Mambas” precisam ser mais dissimulados e contidos. Depois de expostos em Argel, foram despudoradamente reproduzidos em Maputo e, agora, em Joanesburgo. De parte a parte – dos jogadores e equipa técnica versus estrutura federativa – deve haver um pacto de regime, evidentemente sem que nenhuma delas se iliba das suas responsabilidades. Os primeiros com o jogo em campo e os segundos com as ciências combinatórias da logística do jogo.
Felizmente existe uma espécie de perdão poético concedido pelos moçambicanos, adeptos costumeiros de futebol ou não, e todos eles esperam que os Mambas que partem para o CAN da Costa do Marfim respeitem os anais da sua própria história e façam desta epopeia um exercício de exaltação e enaltecimento do futebol e da tribo a que eles próprios pertencem.
Este é, também, o momento para reclamar – jogando, em Abidjan, o futebol que sabem e do qual foram nados e criados – a moçambicanidade de um homem desnaturalizado pela circunstância colonial e tornado ídolo de Portugal. Passam 10 anos sobre a morte de Eusébio, o símbolo maior do engenho futebolístico de Moçambique. No CAN da Costa do Marfim, Moçambique deve usar o cânone da exuberância da Pantera Negra na habitual troca de galhardetes com os seus adversários de ocasião.
É o que temos à mão de semear modelos e é o que de melhor temos como referência de competência futebolística, tal como Mário Wilson, Coluna, Matateu, Hilário, Joaquim João, Tico-Tico, Chiquinho Conde, Dário… um longo e majestoso cardápio!
2. Há um compromisso que não se negoceia com esta quinta participação de Moçambique em fases finais da Copa Africana das Nações. A roldana da nossa presença nestes estrados continentais, onde a festa do futebol africano se excede em genialidade e engenho, deve ser contínua e consequente com o quilate do futebol que nos é creditado pela história. Uma narrativa cheia de nomes e feitos.
Chiquinho Conde resgatou alguma dignidade e presunção, do que resultou, no ano passado, uma brilhante participação no CHAN da Argélia, apenas poluída pelos tais impulsos de um grupo de jogadores agoniados, inquietos e mais preocupados com a ocasião do que em tornar ainda mais perene um feito extraordinário.
Precisamente por causa deste contrato com a História, Argel não se pode repetir em Abidjan.
3. Também a Sociedade do Noticias, como lhe foi sempre singular e apanágio, subscreve este contrato com a História do futebol de Moçambique. Esta edição do Desafio contém um encorpado Destacável dedicado à participação dos “Mambas” no CAN da Costa do Marfim; as páginas desportivas do Notícias e Domingo serão cultivadas caracteristicamente visando o CAN; e actualizações nas suas plataformas online serão menos intervaladas.
E vai ser assim enquanto durar esta celebração africana.
Um bom CAN para Moçambique!