ENQUANTO Kim Jong-il e muito provavelmente o seu filho Kim Jong-un, agora líder supremo da Coreia do Norte, espreitavam os jogos de Seul por uma fresta do paralelo 38, a linha que divide a península coreana em dois países, no extremo sul do território juntava-se um número recorde de participantes em jogos olímpicos, um total de 159 nações representadas por 8391 atletas, entre os quais uma menina franzina, de apenas 16 anos, que provinha de um bairro suburbano da cidade de Maputo.
Fascinados, os Kim, pai e filho, não arredavam da dita fresta e não tiravam os olhos em bico da referida menina. Como era de esperar, a Coreia do Norte não participaria nos jogos organizados a paredes-meias pelo seu vizinho a sul, mas a verdade é que a norte a curiosidade era de toda a grandeza, a começar pela da família “real”, aqui aludidos como deslumbrados por aquela menina de 16 anos que respondia pelo nome de Maria de Lurdes Mutola!
Esta, a de Seul, foi a primeira olimpíada de Lurdes, que terminou a competição num honroso sétimo lugar, deixando boquiabertos aqueles dois coreanos do norte de que falamos acima, até porque a prova dos 800 metros foi ganha por uma atleta com quase o dobro da idade da nossa menina, uma alemã da antiga RDA, Sigrun Wodars. Assim, logo a primeira, Lurdes Mutola entrava para a galeria das sete mulheres rainhas dos 800 metros, sendo o prelúdio do fenómeno que despontava aos olhos inquisitivos dos dois Kim mais a norte…
Participaram nestes jogos, para além de Lurdes Mutola, Jaime Nharimue, dos 400 metros, Paulo Noronha, do triplo salto, os pugilistas Archer Fausto (48-51 Kg), Alberto Machaze (51-54 Kg) e Lucas Januário (63,5-67 Kg); e os nadadores Sérgio Faftine, dos 100 metros livres e 100 metros bruços e ainda Carolina Araújo, nos 100 metros costas e 100 e 50 metros livres.
Sendo verdade que as marcas dos moçambicanos voltariam a não deslumbrar, à excepção da de Lurdes, os Jogos Olímpicos de Seul voltaram a ter o norte-americano Carl Lewis como estrela, apesar de uma outra estrela ter cintilado por pouco tempo. Na corrida dos 100 metros, Ben Johnson, um jamaicano naturalizado canadiano, venceu o duelo com Lewis na prova mais rápida do atletismo, mas foi desclassificado depois de uma análise “antidoping”, que acusou o uso de esteróides. Dois dias depois, a medalha de ouro era entregue a Carl Lewis.
Em boa verdade, os Jogos de Seul ficaram marcados por escândalos de “doping”. Para além deste caso de Ben Johnson, o mais mediático, grande parte de episódios ocorreu no halterofilismo, obrigando as equipas da Bulgária e da Hungria, tradicionalmente fortes, a abandonar a competição devido às análises positivas aos seus atletas.
Pela primeira vez desde os Jogos de Montreal, no Canadá, os países dos blocos socialista e capitalista, liderados pela União Soviética e pelos Estados Unidos, respectivamente, participaram juntos dos Jogos, depois dos boicotes aos jogos de Moscovo e Los Angels, mas o evento não ficaria completamente livre de sanções, uma vez que Cuba, Nicarágua, Seychelles, Albânia, Etiópia e Coreia do Norte não participaram nos Jogos Olímpicos de Seul.
Outro dado que fica de Seul: foi o evento desportivo mais visto na televisão até então, cobertos por mais de 15 mil jornalistas e transmitidos para mais de 140 países e, não nos esqueçamos, também vistos por dois “voyeurs” especiais ali no paralelo 38…
PS: Caro, Pierre. Por intermédio desta envio-lhe um aceno de reconhecimento por tudo quanto tem feito para ajudar os nossos atletas que se preparam para Paris-2024. Vide a reportagem no “desafio” de hoje…
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