Foi um dos melhores médios que Moçambique teve, cuja classe inquestionável fez com que abandonasse o país para Portugal, em 1981, onde fez o resto da carreira até 1994. Seu nome é Artur José Semedo, filho de José Semedo e Maria Ngomane. Nasceu no dia 25 de Julho de 1958, na antiga Lourenço Marques (Maputo). Penúltimo e único homem entre quatro irmãos, as restantes são Fernanda, Maria Margarida e Helena Edite.
O gosto pelo futebol está no seu ADN. “Penso que nasci com esta veia futebolística. Comecei a manifestar a minha ligação com a bola desde a minha segunda infância, no bairro da Mafalala, mais concretamente em Mukhumula, uma espécie de sub-bairro, situado entre o Largo João Albasini, Avenida de Angola e a Rua da Guiné imiscuindo-me em jogos com meninos mais adultos”.
De Mukhumula emergiram várias figuras sonantes do desporto, cultura e política, como os futebolistas Che Cássimo, Lucas Albasini, Miguel dos Santos e Damião, o ginasta Mussá Tembe, entre outros com quem Artur Semedo dividiu a infância. “Dizer que é o bairro mais importante é um pouco presunçoso, mas é, de facto, um bairro com muita gente ilustre”.
ENTRE OS MELHORES
DO TORNEIO CANIÇO
Por volta dos dez anos participa com mais intensidade em jogos inter-zonais dentro da Mafalala e “muitas vezes a minha equipa defrontava a equipa do ‘mister’ Mussá Osman. O Dr. Cremildo Gonçalves fez parte da minha equipa algumas vezes, até que, entretanto, institui-se o famoso Torneio Caniço, extremamente notável em toda a cidade de Lourenço Marques e arredores”.
O torneio foi organizado em duas edições, no Campo do 1º de Maio. Artur Semedo teve o privilégio de participar nas duas edições. “A minha equipa era a Juventus da Mafalala. O bairro também tinha a CUF, do ‘mister’ Mussá Osman. Tive a felicidade de conquistar a segunda edição, além de ter estado sempre entre os 50 melhores jogadores do evento. Na altura era uma proeza, porque o torneio albergava todos os miúdos da cidade e periferia, entre os nove e 11 anos”.
Semedo lembra-se que “uma das pessoas que estava à frente da organização era o senhor Aleluia, um vanguardista para a época. Desenhou este torneio e como tinha uma relação sociológica com o tempo em que vivia acabou por instituir aquele torneio, que foi, sem dúvida, um chamariz para a época”.
Não falar de um outro torneio disputado mais ou menos na mesma época, o Dente de Leite, seria trair a sua memória. “Foi organizado pelo Desportivo. O mentor foi o brasileiro Tubarão, em que fazia parte o próprio Desportivo e outras equipas dos subúrbios”.
INGRESSO NO
COSTA DO SOL
Em 1972 os torneios infantis já eram pequenos para si e Semedo ingressa no Benfica de Lourenço Marques, que mais tarde se transformaria em Costa do Sol. “Cheguei lá por influência de um cunhado meu, que já jogava lá. Fui inscrito nos iniciados e treinado pelo ‘mister’ Costa. Tinha uma boa relação com a miudagem e era, aliás, o coordenador de todo o futebol juvenil do clube”.
Partilhou o balneário pela primeira vez com alguns colegas que, tal como ele, mais tarde deram cartas na equipa sénior, como o Gido (um mafalalense que erradamente era tratado por Gito até pela imprensa), Luís e Ramos Siquice. Começava uma carreira com posterior brilho intenso.
Foi escalando todas as camadas até aos seniores. “Fui sempre um jogador precoce”, diz Semedo, que jogou na equipa principal com apenas 16 anitos. Isso fez-me defrontar jogadores muito mais velhos, como Tayob, João Albasini, Damune, Arménio, Cassamo, Palma Pinto e outros. Eu e o ‘mister’ Mussá Osman tivemos esse privilégio, graças ao ‘mister’ Oliveira. Tínhamos robustez física e talento suficientes para jogar ao lado de jogadores adultos”.
Nessa altura os dois estavam a ser preparados para grandes voos e foram utilizados nos torneios de abertura, o que significa que continuavam a fazer jogos dos respectivos escalões. Mas serviu para familiarizarem-se com o balneário sénior, onde pontificavam nomes como Rocha, Boene, Doló, Ibrahimo, Guerreiro, Meque, Hernani, Olavo e outros.
