Tirando o caso especial dos “touros”, não se percebe como vários clubes continuam de férias, quando estamos a sensivelmente oito semanas do início do campeonato nacional, com o agravante de que um número significativo desses clubes nem sequer tem ainda as equipas técnicas constituídas.
A Federação Moçambicana de Futebol, em sintonia com a Liga Moçambicana de Futebol, indicaram 29 de Março como data mais provável para o início da disputa da edição 2025 do Campeonato Nacional de Futebol da Primeira Divisão, o nosso Moçambola.
A indicação da data faz parte do Comunicado oficial número 1, emitido em Dezembro passado e que apresenta o calendário futebolístico nacional, incluindo as competições internacionais de clubes e também da Selecção Nacional, com destaque para o apuramento ao Campeonato do Mundo do próximo ano, onde Moçambique continua a alimentar a esperança de marcar presença pela primeira vez na história.
Ora, a antecipação da divulgação do calendário nacional por parte da FMF parece não encontrar o devido eco em boa parte dos 14 clubes que vão disputar o Moçambola, a avaliar pelos sinais que nos chegam de várias colectividades.
A campeã nacional, a Black Bulls, só há uma semana encerrou a época passada – já a correr a presente – por conta da participação na Taça da Confederação (Taça CAF), competição na qual, apesar de uma entrega abnegada, acabou por sucumbir aos pés dos gigantes egípcios, Zamalek e Al Masry.
Com efeito, o treinador Hélder Duarte concedeu férias à equipa até 14 de Fevereiro próximo, devendo retomar para imediatamente preparar a partida inaugural da época com o Ferroviário de Maputo, referente à Supertaça. Faz todo sentido.
Tirando o caso especial dos “touros”, não se percebe como vários clubes continuam de férias, quando estamos a sensivelmente oito semanas do início do campeonato nacional, com o agravante de que um número significativo desses clubes nem sequer tem ainda as equipas técnicas constituídas.
À busca de uma explicação convincente para esse marasmo, fiquei a saber que determinados clubes assim procedem para garantir uma alegada estabilidade financeira, proveniente do não pagamento de salários a treinadores e jogadores nos meses de Dezembro, Janeiro e até Fevereiro, em alguns casos.
Quer dizer, uma direcção de um clube que se pretende sério prefere apontar que o treinador será Domingos Magunhule, mas não deve ser contratado em Dezembro ou Janeiro, para poupar dinheiro. Daí resulta, por tabela, que os jogadores indicados pelo técnico também sejam contratados em finais de Janeiro para auferir salários apenas a partir de Março, com indicação de que o mês de Dezembro não entra nas contas, porque o campeonato já estará encerrado.
Portanto, os jogadores recebem os seus salários de Fevereiro a Novembro, em prejuízo de tudo o que se pretende como qualidade do jogo, crescimento e valorização dos atletas no mercado internacional.
Quando abordámos clubes como Desportivo da Matola, Ferroviário de Nacala ou Ferroviário de Lichinga nos apercebemos que não há qualquer pressa de se vincularem com equipas técnicas completas, desde já. A época até pode iniciar com treinadores de juniores ou juvenis, sob garantia de que mais tarde chegará o principal com o comboio já em marcha. Não se respeita o tempo necessário para o treinador induzir as suas ideias de jogo ao grupo de trabalho, mesmo sabendo-se que haverá primeiro contacto com mais da metade do plantel.
Outrossim, a planificação da época fica comprometida e temos várias equipas a chegarem no campeonato ainda a precisar de jogos de controlo ou ensaios para os jogadores familiarizarem-se com as ideias do treinador.
Estas mesmas direcções de clubes tornam-se impacientes e implacáveis na hora de cobrar resultados aos treinadores, esquecendo-se que o preparo da época foi deficitário e não correspondeu às exigências desses mesmos técnicos. Daqui também pode-se explicar o despedimento massivo de técnicos, que se tornou habitual no nosso campeonato.
Para o crescimento que o campeonato tem estado a registar nos últimos anos, é oportuno e justificado que os nossos clubes assumam o período de pré-época com muita organização e seriedade, porque é crucial para a qualidade do jogo e das equipas durante o Moçambola.
E também não é favorecimento algum pagar salários de Dezembro, Janeiro e Fevereiro aos agentes desportivos porque o trabalhador, mesmo de férias, tem direito a auferir o seu salário.