No futebol, Cidália Cuta, ou simplesmente Ninica, continua o seu périplo pelo mundo fora como embaixadora do futebol feminino carregando Moçambique às costas. De 26 anos de idade, Ninica representa actualmente o AS FAR (Associação Desportiva das Forças Armadas Reais) de Marrocos.

Este é o quarto clube estrangeiro que a avançada escala, depois ter representado o Costa do Sol (2018/2022), Young Buffaloes do Eswatini (2022), Yanga Princess da Tanzania (2023), Minsk FC (2024), da Bielorrússia.
“Ser mulher no futebol é um dos grandes desafios. Dizem-nos que não somos capazes, que o nosso lugar é em casa, a cuidar de filhos. Tentam cortar os nossos sonhos”, afirma Ninica, com a convicção de quem já enfrentou – e venceu – muitos preconceitos.
A sua história começa nos bairros de Maputo, onde desde cedo conviveu com o futebol, influenciada pelo pai, também jogador. “Sempre estive em ambientes de rapazes. Chamavam-me de Maria Rapaz. Quando jogava com eles e lhes fazia fintas, ficavam irritados e às vezes magoavam-me.”
Apesar das dificuldades, Ninica nunca desistiu. “Comecei a jogar profissionalmente ainda criança, com atletas mais velhas. Foi uma longa trajectória. Passei por doenças, cheguei a ser operada. Quis desistir, mas acreditei, levantei-me e continuei”.
Essa persistência transformou-se em missão. Além de representar Moçambique fora de portas, Ninica tornou-se referência para muitas jovens jogadoras. “Somos uma motivação para algumas meninas. Eu, a Leila, a Lónika, a Deolinda, a Inês Shingueleza e Amélia Banze… todas nós mostrámos que é possível. Mas é preciso apoio.”
A falta de recursos e de reconhecimento, sobretudo fora da capital, continua a ser uma barreira. “Há províncias com muito talento, mas as jogadoras não têm oportunidades, por estarem longe de Maputo. Precisamos que os campeonatos melhorem, que a federação nos apoie e que surjam patrocínios.”
Para Ninica, o futebol foi mais do que um desporto – foi uma tábua de salvação. “Quem sabe o que seria de mim se não fosse o futebol? Muitas meninas acabam por engravidar cedo, envolver-se com drogas ou prostituição. Ser mulher em Moçambique é um grande desafio”.
Apesar de tudo, a atleta mantém-se firme no seu propósito. “O mais importante é sempre levantar quando se cai. Continuar. Sempre.”