Manhã de quarta-feira. A agenda semanal atira-nos às entranhas do mítico Bairro do Chamanculo. Voltámos a pisar com orgulho o chão do ‘ghetto’ onde caíram os cordões umbilicais de figuras de proa das nossas arenas desportiva e cultural, superiormente representadas pelos incontornáveis ícones Lurdes Mutola e Jimmy Dludlu. Verdadeiras lendas vivas, diga-se! O pugilista Paulo Jorge foi o responsável pela nossa ida àquele martirizado lugar, cuja degradação ambiental não é única. Acontece também na Mafalala, Urbanização, Maxaquene, Mavalane, verdadeiros espelhos da negligência e incompetência da administração colonial.
Na verdade, a visita ao Chamanculo ressuscitou dores e mágoas antigas. Abriu cicatrizes saradas. A gritante desregra promovida pelos invasores europeus continua patente, a “gritar” para quem quer ouvir. Caminhos estreitos que dificultam a mobilidade de pessoas e bens, com a cumplicidade dos charcos deixados nas veredas pelas recentes chuvas caídas na capital do país, para não falar da precariedade habitacional que pronuncia as marcas da deficiente gestão urbana da administração colonial, porque para ela o que importava era que o “xilunguine” (cidade de cimento) estivesse bem.
Foi duro ver o “replay desse filme” com génese no passado, mas rapidamente desconectámo-nos desse trauma, desse olhar crítico forçado pelas circunstâncias, porque o que na verdade queríamos era ouvir o “boxeur” a recuar a fita do seu brilhante percurso, ele que, aos 52 anos, cuida da Academia Paulo Jorge. Aqui ajuda crianças e jovens a conciliarem a aprendizagem do bê-a-bá com a prática desportiva, sem se importarem com as inúmeras dificuldades que o patrono enfrenta para continuar a fazer o que mais sabe e gosta.
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