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EDITORIAL

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Horácio Gonçalves é a última tentação de uma federação que sobrevive de bálsamos para contrariar os ensurdecedores alarmes do futebol. O antigo treinador do Costa do Sol e campeão em título é o último fascínio de uma federação que sobrevive de eufemismos e cada vez menos consegue disfarçar a sensação de declínio e de colapso do desporto que já nos foi rei.

Esta é a federação que parece contentar- -se com os efémeros momentos de glória, primeiro os que nos foram proporcionados instantaneamente pela Selecção Sub-20 no Torneio da COSAFA, e depois a festejada qualificação de uma até então demeritória Selecção de Futebol de Praia para o CAN.

Em ambos os casos as circunstâncias foram celebradas com desusada euforia, como se as duas ocorrências nos penitenciassem da falta de perspectiva de futuro, e como se a terapia fosse lamber as feridas com saliva contaminada.

A verdade é que, de modo grotesco e abusivo, o futebol tem estado a ser apropriado por exterioridades que lhe são alheios, também por culpa de todos quantos deixam que o fenómeno seja gerido por uma carolice disfarçada. Dissimulada porque os dólares – ainda na ordem dos 15 mil? – para pagar a este seleccionador e a tantos outros que o antecederam e a outros tantos que se vão exceder, são provenientes do erário público, mais concretamente da Hidroeléctrica de Cahora-Bassa.

Depois daquela que foi a pior tentativa de nos qualificarmos para uma fase final da Copa Africana das Nações, replicámos com o gesto paliativo de indicar mais um, a somar a muitos tantos, sem sequer esboçarmos o exercício de definir o perfil do seleccionador, e sem mesmo sequer traçar o rascunho de um modelo de jogo para este verdadeiro país do pandza.

O futebol é uma ciência cada vez mais colateral, fazendo corresponder as ciências da motricidade e educação física, nutrição, medicina, economia, gestão, marketing, matemáticas, física, comunicação e até jornalismo. É por isso mesmo que a sua transversalidade deve estar reflectida nos gestores que elegemos, porque, na verdade, os ciclos eleitorais não passam de momentos saltimbancos, onde a poluição irracional apenas se sobrepõe às fragilidades pecuniárias dos que votam.

É claro que não se pode imputar a Horácio Gonçalves o ónus deste desgoverno, até porque ele é apenas o próximo de tantos outros que se seguirão sem sequer nos darmos ao trabalho de reconhecer que o futebol não tem donos, pertence a todos nós. Enfim, vamos ficar atentos à chamada, porque pode ser que nos calhe a vez…

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Almiro Santos

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