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REPORTAGEM

O GENY(O) DAS MISSÕES (IM)POSSÍVEIS

Por meio da beleza estética e poética de alguns versos compostos por José João Craveirinha, o poeta-mor moçambicano e o primeiro autor africano galardoado com o Prémio Camões, Geny Catamo ficou fascinado com a escrita  de Craveirinha e, transfigura-se nela quando está em campo.

Com 16 anos de idade, o rapaz nascido no bairro do Aeroporto, original KaThlavana, local de confluência de nomes sonantes ligados as artes e não só, disse ao desafio  não ser um fã confesso de literatura, mas assumiu o gosto que nutre  pelo poema Grito Negro, extraído do “Xigubo”, uma das várias obras do poeta, desportista, pintor, jornalista,  e responsável pela descoberta da atleta moçambicana Maria de Lurdes Mutola, José Craveirinha.

A exibição  deixada em Cotonou, capital do Benim, na noite quarta-feira passada, em jogo da segunda jornada do Grupo “L” de qualificação ao CAN-2023, que se realizará na Costa do Marfim, expressou em parte a arte do futebol na sua essência pura, o futebol total, o futebol dos bairros, sem limites. Um autêntico Geny(o)  à solta em Cotonou.

Num ambiente preparado para hostilizar os Mambas e com o “vodu” a ser exaltado, prática religiosa da maioria da população local, o internacional moçambicano a serviço do Sporting de Portugal foi um autêntico desmancha-prazeres ao apontar o golo solitário que conferiu o triunfo ao combinado nacional, depois de uma assistência de luxo de Reinildo Mandava, outra fera nos Mambas.

Geny fez estragos e deixou ficar patente a sua frieza e cinismo no trato com a bola e, com quem ousasse cruzar o seu caminho. Chamado a cobrar os livres, Geny mostrou precisão e teleguiava todas as bolas faltando apenas o melhor aproveitamento por parte do seus companheiros. Catamo foi um verdadeiro poço de energia na sua envolvência nas acções ofensivas.  

Foi uma exibição de luxo ao nível do que raras vezes se tem visto na selecção nacional, porém nada que nos surpreenda vindo deste talento bruto, que ainda miúdo deu sinais inequívocos do que se tornaria.

O golo esse, refreou os ânimos exaltados e serviu de analgésico para afagar os murmúrios, dores e frustrações de milhões de almas ávidas por vitórias. As horas ociosas preenchidas com uma descrença generalizada alicerçadas com um pessimismo assumido, transformaram-se em cânticos de louvores carregados de esperança naquele trigésimo oitavo minuto, que Geny fez abanar as redes  à guarda de Saturnin Allagbé. Renasceu a confiança!

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