Ao celebrarmos os 35 anos do Jornal Desafio, fui convidado pelo Director Editorial, Almiro Santos, a escrever um texto sobre Boavida Valente Funjua, figura ímpar na história deste semanário.
É óbvio que falar de Boavida Funjua jamais seria uma tarefa fácil e pacífica, porque, se por um lado, comecei a conviver com ele quando já era uma figura com nome e créditos firmados no jornalismo desportivo moçambicano e, por isso, o meu conhecimento ser tardio, por outro, o homem era antes para lá de jornalista. E isso significa que era um ser social, de cujas relações coim outras pessoas não conhecê-las de forma profunda, naturalmente, o que despoleta, como é natural, reacções, sejam elas positivas ou negativas, quando nos referimos ao homem.
Esta ressalva é importante fazer porque Boavida Funjua foi, na verdade, um homem de trato difícil, até com os colegas da Redacção, quanto mais com os actores desportivos nacionais.
Por isso, esta será uma tentativa de falar do profissional com o qual convivi desde 1998, quando cá cheguei, até a sua morte, em ………
GRANDE MAIOR LEGADO
O maior legado que Boavida Funjua deixou-me, enquanto seu pupilo, foi a forma objectiva com que um Chefe da Redacção e, por isso, condutor da actividade profissional dos jornalistas à sua disposição, orienta o trabalho destes.
Claro que quem leu o parágrafo acima está, neste momento, a dizer que conduzir o trabalho dos jornalistas é a função de um Chefe da Redacção. É verdade, mas para mim, talvez isso tenha sido marcante porque Boavida Funjua foi o primeiro Chefe da Redacção que tive.
Isto é, quando nos reunia às terças-feiras, para analisar o jornal produzido e perspectivar aquele que íamos produzir para a semana seguinte, o homem não esperava que, a priori, o jornalista lhe dissesse o que se propunha a reportar. Antes pelo contrário, era ele quem tinha uma lista de assuntos que considerava relevantes no desporto moçambicano, principalmente e que, por isso, deviam ser reportados por um determinado jornalista. Só depois dele atribuir tarefas a cada um de nós e respectiva linha de orientação da sua produção dos conteúdos é que dava a oportunidade para que colocássemos à sua consideração, os nossos temas.
Para mim, isso revelava que Boavida Funjua era um homem completamente conectado com a actividade desportiva nacional, ademais numa altura em que a informação não era tão veloz quanto agora. E esse é, para mim, um grande ensinamento em termos de direcção de uma equipa de jornalistas.
Depois, a juntar-se a esse aspecto de atenção com o que se passava no país e que não queria deixar passar sem ser reportado no jornal que dirigia, o Boavida Funjua era um excelente condutor de jovens jornalistas.
Os nossos textos passavam pelo seu rigoroso escrutínio. No momento em que os editava, fazia questão que o jornalista estivesse em seu lado, para compreender por quê de estar a edita-los, de colocar esta e não aquela palavra, a vírgula aqui e não ali, etc.
Para um jovem jornalista como eu à época em que o conheci, ainda a frequentar o ensino secundário, ter alguém que fizesse o acompanhamento dos seus textos foi uma sorte, porque terá permitido saber como limar e evitar erros básicos logo no início da carreira profissional.
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