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ENTREVISTA

NÃO PODIA FALHAR EM SYDNEY

Vinte anos depois (25 de Setembro de 2020-25 de Setembro 2020) da conquista da medalha de ouro dos 800 metros femininos, com o tempo de 1.56.15minutos, Maria de Lurdes Mutola assume que a quarta olimpíada tinha que ser de vez.

“Sydney eram jogos para não falhar”. O dia (25 de Setembro) já era de festa – assinalava-se 36 anos após a criação das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM) – e o país parara literalmente com olhos postos na TVM e/ou de ouvidos na rádio para acompanhar a olimpíada, que devia ser da vingança, depois do falhanço (ficou-se pelo bronze) quatro anos antes…. e Mutola não deixou os seus créditos em mãos alheias, tendo conquistado o ouro e com isso o hino moçambicano foi entoado, vibrando-se pelo país e na diáspora pelo ouro que ainda brilha 20 anos depois.

Em jeito de homenagem, tivemos uma conversa de duas horas com a desportista mais sucedida da história, que nos Jogos Africanos de Harare os zimbabweanos apelidaram de “Maputo Express”. Mutola diz que o sucesso que teve deveu-se em grande parte ao facto de ter tido “a sorte” de ter pessoas certas na hora certa. Lembra que se instalou em Eugene, no Estado de Oregon, porque ouviu um conselho que agradece até hoje.

Mutola, que já tinha África aos seus pés, começou a conquistar o mundo e as medalhas foram se multiplicando com a olímpica a ser a estrela-mor.

TIVE QUE VIVER DOIS

ANOS NA AUSTRÁLIA

– Como é que Mutola preparou os Jogos Olímpicos de Sydney depois do bronze de Atlanta…

– Os Jogos Olímpicos de Sydney foram assumidos por nós como sendo uma competição que não podia falhar. Faltando dois anos sentámos, desenhámos um plano e decidimos que tinha de ir viver para a Austrália. Mas não em Sydney, que

era uma cidade grande e difícil de treinar. Fui ficar numa cidade isolada. Era um país que conhecia razoavelmente bem, porque ia muitas vezes para competir. Fui aconselhada a ir à Universidade de Queensland, porque lá tinha tudo: pista, hospital…enfim, todas as condições. Mas decidimos que no lugar de ficar nos dormitórios da universidade, por ser um espaço menor – cansa quando ficas muito tempo fechado optámos por arrendar uma casa a cem metros da pista. Fomos para lá.

Nós, ou melhor, a treinadora é quem pagou a casa e ficámos lá a treinar e saía de Brisbane só quando fosse para competir.

Fazia isso para me ambientar ao clima, porque, como sabem, o Verão na Austrália é muito húmido e seria necessário ambientar-me. Isso é muito importante, ao contrário do que muitos pensam. O outro segredo foi entrar na Vila Olímpica faltando dois dias para a minha competição.

*Extracto da entrevista de Gil Carvalho e Atanásio Zandamela, publicada no desafio a 28 de Setembro de 2020, que pode ser lida integralmente na nossa edição digital e imprensa

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