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CARTAS AO BARÃO

SPASIBA, MISHA!

Enquanto os franceses procuram desamolgar-se na política para receber condignamente os Jogos Olímpicos, por cá iniciamos hoje a publicação de umas cartinhas dirigidas ao Barão Pierre de Coubertin, considerado o fundador dos Jogos Olímpicos da Era Moderna. Comecemos por aquela que se refere à primeira vez que Moçambique participou na festa do Barão, nos Jogos de 1980, e da qual ainda nos devemos lembrar da simpática Misha, a mascote dos jogos, e da forma como acolheu o nosso poeta, José Craveirinha, que fazia parte da delegação de Moçambique. “Spasiba, Misha! Obrigado, Misha!  

Os Jogos Olímpicos de Moscovo, em 1980, foram os primeiros em que Moçambique tomou parte, por sinal com a até agora maior delegação presente na história da sua participação em Jogos Olímpicos: 17 atletas, entre os quais o nadador Ntewane Machel, filho do Presidente Samora Moisés Machel, o primeiro Presidente de Moçambique, falecido em 1986 na queda de um avião Tupolev.

É preciso destacar que esta primeira delegação olímpica de Moçambique, chefiada pelo também primeiro Reitor da Universidade Eduardo Mondlane, Prof. Doutor Fernando dos Reis Ganhão, integrava o mais aplaudido poeta moçambicano, José Craveirinha, por sinal pai de Stélio, o saltador que igualmente integrava a comitiva.

No cômputo geral, os Jogos Olímpicos de Moscovo tinham tudo para serem grandiosos e marcantes, desde que a sua indicação tinha sido conhecida em 1974, desde logo espevitando o poder comunista vigente que, na ocasião, se revia a glorificar os feitos do regime. Porém, a 27 de Dezembro de 1979, tropas soviéticas invadiam o Afeganistão, precipitando aquela que se transformaria na maior prova de ingerência política em assuntos desportivos e que redundaria num boicote desportivo que, comparativamente ao número de participantes, apenas lembrava os de Helsínquia pelo seu reduzido número.

Nestes, os de Moscovo, pelo menos 61 países aderiram ao apelo de boicote do presidente norte-americano Jimmy Carter e, deste modo, modalidades como o basquetebol, atletismo e natação perderiam o brilho e o fulgor habituais, devido à ausência das principais estrelas consagradas nessas modalidades.

Contudo, apesar do apelo de Jimmy Carter, países tradicionalmente aliados dos Estados Unidos como a França, Reino Unido, Itália, Austrália, Holanda e Suécia enviaram delegações desportivas para Moscovo, fazendo valer o espírito olímpico sobre as diferenças ideológicas de dois blocos políticos que se opunham na chamada guerra fria.

E enquanto nas montanhas do Afeganistão as tropas soviéticas conheciam duros revés, no Estádio Lénine, em Moscovo, 102 mil espectadores aplaudiam efusivamente o urso Misha, a mascote dos jogos, e assistiam ao desfile de apenas 80 países, o menor número numa olimpíada desde 1956, na Finlândia.

Pelo menos 16 países prescindiriam das suas bandeiras nacionais, desfilando com o estandarte olímpico e usando o hino do Comité Olímpico Internacional na comemoração das suas vitórias, nuns jogos dominados, orgulhosamente, pela União Soviética de Leonid Brejnev, mas de indeléveis prejuízos financeiros, incapazes de disfarçar os 9 biliões de dólares investidos na preparação do evento! Com 17 atletas, esta seria a primeira presença de Moçambique em Jogos Olímpicos, precisamente cinco anos depois de proclamada a independência do país.

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Foi fundado no dia 24 de Junho de 1987 como presente da Sociedade do Notícias aos desportistas por ocasião dos 12 anos de Independência Nacional, que se assinalaram nesse mesmo ano.

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