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CARTAS AO BARÃO

UM TORPEDO NA BAÍA DE SIDNEY!

A AUSTRÁLIA nunca vira um torpedo desde aqueloutros, lançados pelos japoneses em Darwin, num contravértice qualquer da II Guerra Mundial, até ao dia em que, no Estádio Olímpico de Sydney, numa noite temperada de Setembro de 2000, Maria de Lurdes Mutola cortou a meta em 1.56.15, na épica final dos 800 metros. Nem ao mais sobressaltado dos cangurus lhe passou pela cabeça que o momento, na Baía de Sydney, se referia à conquista da primeira medalha de ouro para Moçambique em jogos olímpicos e não a um retardado engenho explosivo deixado pelas hostes nipónicas…   

A história de hoje é muito agradável de contar, são daquelas que não nos cansamos de ouvir e também de rever num daqueles repositórios audiovisuais da gigantesca videoteca do Comité Olímpico Internacional em Lausanne, à distância de um “click” nos tempos que correm.

Prometemos ser fiéis ao que vamos vendo enquanto, amorosamente, transcrevemos a trajectória e o impacto daquele “torpedo” moçambicano que deixou alvoraçada uma trupe daqueles simpáticos animais, por essa altura mais preocupados em manter invicta a Baía de Sydney.

Desde já garantimos que não seremos parciais, ou pelo menos tão parciais quanto o relator do vídeo, um francês com voz esganiçada que nos tenta amedrontar com a performance de Kelly Holmes, a britânica que nos jogos a seguir aos da Austrália conquistaria o ouro nos 800 e 1500 metros, mas esses são os jogos a seguir e nem sequer nos interessam aqui abordar.

Vamos a estes, os de 2000, com 10 atletas alinhadas na pista do Estádio Olímpico de Sydney, mais de 80 mil espectadores aos berros, outros tantos milhões de espectadores com as testas espetadas nos televisores, e sabe-se lá mais quantos milhares daqueles bichos saltitantes que habitam a Austrália a acompanhar uma das provas mais apetecíveis do atletismo.

A imagem começa com a atleta eslovaca Brigita Langerholc ao lado de Lurdes Mutola. Como é evidentemente, ambas estão absortas no seu aquecimento e nem sequer trocam olhares. Mais à direita está a britânica Kelly Holmes, também ela concentrada no seu aquecimento, apesar de que no olhar existe alguma coisa que vimos no filme Austrália. Sobre isso vamos procurar explicar mais adiante.

A corrida começa e a voz esganiçada do relator francês vai dando conta dos avanços de Kelly e também da austríaca Stephanie Graf. À passagem dos primeiros 400 metros, quando uma enigmática criatura toca estridentemente a campainha, Lurdes está no meio da turba, em quinto ou sexto. A voz enforcada de que falamos acima, parece estar a gozar quando pergunta “onde está a Maria Mutola, onde está a Maria Mutola?”.

Mas Lurdes aguentou o amontoado e só no último terço da pista restante começou a acelerar. Vemo-la nitidamente a ultrapassar as suas adversárias, primeiro a própria Brigita, depois a cubana Zulia Calatayud, logo a seguir a marroquina Hasna Benhassi. Em apenas um lapso de tempo, Lurdes tem apenas a Kelly e a Stephanie e, acreditem, aquilo parecia um BMW a ultrapassar o autor deste relato na sua prezada viatura…

Lurdes cortou a meta com menos 50 centésimas de segundo que a austríaca Stephanie Graf e ainda menos 65 que a britânica Kelly Holmes…

Para fechar, que já vamos longos, a austríaca Stephanie Garf cumprimentou Lurdes e com ela ainda dividiu a volta da vitória na pista do Estádio Olímpico de Sydney. A inglesa Kelly Holmes, provavelmente amuada com o terceiro lugar, mais parecia Nicole Kidman no papel de uma arrogante representante da Coroa Britânica a lidar com aborígenes naquele filme… Austrália!

Paul Hogan, Crocodile Dundee só se ria…

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