O discurso de “jogo vendido” pode ser visto como desculpa de quem não fez bem o seu trabalho. Esse argumento proferido antes de um confronto é também visto como “fuga para frente”, ou seja, reconhecer as suas limitações de forma não elegante e justificar sobre o desaire que poderá ocorrer.
Este assunto tem barba bem grisalha. Aliás, foi sempre uma prática que teve eco, sobretudo, suspeitando-se de colectividades satélites, de relação umbilical similar ou qualquer afinidade. Aliás, este cenário também foi praticado por dirigentes de clubes e até treinadores e jogadores, para facilitar um ou outro lance. Há mais de duas décadas, um jogador de renome viu a sua “carreira enterrada”, supostamente, porque o treinador que o tinha comprado juntou-se a ele num novo ano. Foi o fim.
A prática estendeu-se, à posterior, de clubes grandes ou poderosos para emblemas pequenos ou mais necessitados. Também fomos acompanhando que jogador fulano ou beltrano foi comprado pelo treinador “x” ou “y”, assim como por dirigentes a, b ou c.
As exibições de atletas suspeitos aproximam à suspeita da tal prática e “cimentam-se” como dado factual.
Quando um defesa, em jogada aparentemente fácil, deixa-se bater e, sobretudo, a jogada resulta em golo ou se de um guarda-redes se tratar, num lance de bola defensável, acontece um golo, mesmo entrando no campo teatral, pegando a cabeça ou levando esta ao piso, a justificação de que o erro é normal não procede.
No decurso deste e de outras provas prestigiantes do nosso futebol, também, foi referenciado por inúmeras vezes o “dumbanenguismo” protagonizado por juízes e dirigentes. Em vários momentos a justificação era de que quem saiu derrotado encontrava na actuação do árbitro a forma para defender-se da derrota ou perda de pontos.
O melhor seria não acreditar que de facto esta prática existe. No entanto, muitas vezes as provas ficam bem estampadas no nosso rosto, pela forma como o dirigente, o treinador ou jogador comporta-se em benefício de emblema alheio.
Nesta última fase do campeonato, onde a caça ao ponto é como “de pão para a boca”, o caso do jogo comprado ou vendido foi referenciado.
Ou seja, determinadas equipas de segundo plano ou classificadas a meio da tabela, já com a manutenção garantida, ficam com a missão de distribuir pontos até ao fim do campeonato. A título de exemplo, num caso recente o treinador do Desportivo de Nacala falou para todos ouvirem que a sua direcção negociou o jogo. Mais adiante, fontes da mesma equipa disseram que a intenção desses dirigentes era de fragilizar a equipa para não pontuar, porque já não há dinheiro para pagar os prémios.
Foi ofensivo para quem saiu vitorioso, desvalorizando o esforço do Songo naquele jogo, onde provavelmente o treinador da equipa que perdeu foi excluído do “negócio”.
A direcção do Desportivo não criou condições para que a equipa regressasse a tempo ao seu burgo, depois da viagem via terrestre, com percalços diversos, de permeio (um pneu furou-se no trajecto, por exemplo), e no jogo seguinte levou uma goleada em casa frente à Black Bulls.
Também ouvi dizer que quando o Desportivo de Nacala se deslocou a Maputo para enfrentar o Costa do Sol, clube com o mesmo patrocinador, houve uma tentativa de negociar o jogo para que os nacalenses perdessem o embate, mas essa informação não chegou aos jogadores, nem ao treinador do Nacala, que fizeram de tudo para ganhar o jogo e conseguiram.
Prefiro pensar, simplesmente, que isso não é verdade. Até porque o Costa do Sol, em termos comparativos, é bem melhor, em todos os aspectos, que o Desportivo de Nacala, além de que tinha um factor fundamental a seu favor: jogar em casa com o apoio do seu público.
Como dissemos nas edições anteriores, enquanto se pensa em fortificar os meios de segurança, o criminoso esmera-se para estar um passo à frente a tudo e todos, saindo de cena sem deixar rastos. Assim, persistirá a dúvida sobre a veracidade do que se suspeita.
DESTAQUE » FAZER DO MOÇAMBOLA UM “DUMBA-NENGUE”
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