Passam onze anos após ter adormecido para a morte no dia 5 de Janeiro de 2014, em Portugal. Se fosse vivo completaria, no próximo sábado (25 de janeiro), 81 anos. Estamos a falar de Eusébio da Silva Ferreira, filho de Laurindo António da Silva Ferreira, angolano, e da moçambicana Elisa Anissabene, nascido no subúrbio do mítico Mafalala, o bairro de onde partiu jovem e ao qual só voltou por curto período. É também recordado como o “king” pelos mais novos ou “Pantera Negra” para muitos. Mafalala é também o berço de Hilário da Conceição, José Craveirinha e tantos outros que Moçambique ainda chora.
Bem disse o finado numa entrevista ao jornal português Público, em Janeiro de 1999, após ter ficado em sexto lugar na votação para os nove melhores futebolistas europeus do século, algo que terá causado alguma decepção, mas ainda assim honrando e dignificando como jogador que o seu coração pertencia a dois países.
“Sinto-me orgulhoso. Conforme digo sempre, estou a representar dois países – Moçambique, onde nasci, e Portugal, onde nasceram as minhas filhas e onde vivo – e um grande clube, o Benfica. Foi aqui que aprendi a ser jogador e a ser homem, estive sempre rodeado de grandes homens, que me apoiaram. Agradeço-lhes, se hoje sou o que sou, a eles devo muito”.
São onze anos de eterna saudade não só para os portugueses, que o têm também como filho, afinal por largos anos Eusébio, moçambicano de gema, representou o Benfica e Portugal pelo mundo fora, ecoando sempre consigo o nome de Moçambique nas suas euforias.
E como forma de lembrar e imortalizar os feitos e o legado deixado pelo ícone do futebol mundial nascido em Moçambique, desafio fez uma imersão pelo tempo para partilhar um momento histórico de uma iniciativa levada a cabo pelos Jornais domingo e Notícias, duas das três publicações pertencentes à Sociedade do Notícias, SA. Foi precisamente no dia 7 de Fevereiro de 1999 que o semanário domingo lançou a inédita iniciativa que convidava diversas personalidades para apurar quem seriam os três melhores futebolistas moçambicanos do século.
Na sequência, a direcção editorial do “domingo” decidiu elaborar uma lista com nomes de 20 jogadores que iriam a um escrutínio, dos quais sairia o melhor de todos os tempos. Tal lista viria a ser proposta por um grupo de figuras proeminentes do panorama desportivo, como são os casos de José Craveirinha, José Luís Cabaço e o seu pai, Jorge Matine, Ângelo de Oliveira, Manuel Jorge, Renato Caldeira, Almiro Santos, Ferdinand Wilson, João de Sousa, Albuquerque Freire, Mário Guerreiro, Martinho de Almeida, Arnaldo Salvado (pai), João Carlos da Conceição, Freitas Branco, Marcelino Macome, Mário Coluna, Mahomed Galibo, Saíde Omar, João Albasini, Nelson Mafambane, Cândido Coelho, Gil Milando, José Ferreira (Garrincha), Luís Brito, Armando Ferreira, Artur Semedo, entre outros que não caberiam neste espaço. Aliás, parte destes nomes viria a integrar o júri do concurso.
Como era de esperar, a iniciativa levada a cabo pelo “domingo” veio a causar polémica e divergências que se expressaram através de cartas, telefonemas e faxes com as mais diversas e antagónicas opiniões e sugestões, algumas apelando para que apenas fossem considerados os jogadores que nunca foram para o estrangeiro, outras admitindo que entrem na eleição todos os que nasceram neste país e cá jogaram, mesmo antes de rumarem para o estrangeiro, e ainda outras sugerindo que se fizessem duas votações, uma para antes da independência e outra para depois.
Frisar ainda que a iniciativa da eleição do melhor futebolista moçambicano do século chegou a ser alvo de notícias em jornais e rádios estrangeiros, sobretudo nos países de expressão portuguesa. Afinal, não era para menos, a expectativa gerada em torno dos votantes e dos mais variados apaixonados pelo futebol era enorme, pois na lista final perfilavam os nomes de Mário Coluna, Matateu, Eusébio, Hilário da Conceição, F. Lage, Chiquinho Conde, Nuro Americano, Orlando Conde, Vicente, Calton, Chababe e outros grandes nomes do estendal das lendas do futebol moçambicano.
Precisamente no dia 23 de Setembro de 1999, numa das várias estâncias hoteleiras na cidade de Maputo, Eusébio da Silva Ferreira, o “Pantera Negra”, foi eleito pelo semanário “domingo” o melhor futebolista moçambicano do século. Eusébio foi eleito por 17 elementos do júri que o “domingo” convidou para a decisão final desta inédita iniciativa, que elegeram o rapaz da Mafalala”, lembra Jorge Matine, ex-director do Jornal domingo e mentor da iniciativa que durou seis meses.
Eusébio ocupou a posição cimeira com 17 votos, seguido de Mário Coluna, com 15 votos, e de Fernando Lage, com 11 votos, e, por fim, Matateu na quarta posição, com oito votos.