O critério das contratações dos jogadores são, em grande medida, factores que influenciam na reconstrução dos plantéis em todas as temporadas, propiciando as tais dispensas de metade ou mais de metade de jogadores e contratações nas mesmas proporções.
Registam-se vários elementos nos processos de contratação sem passar pelos treinadores e nem dos departamentos de futebol, nomeadamente por meio de dirigentes dos clubes diversos usando critérios, por vezes, não desportivos. Ou por outra, desconhece-se se as acções são em função de que princípio, já que não existe perfis em nenhum clube moçambicano.
Podia-se desenhar, como em outras latitudes, o perfil do estilo de jogo do clube em função também do histórico sociocultural do clube, existindo, ou mesmo do histórico do estilo usado anteriormente pela colectividade. Não existindo, os clubes seriam chamados a fazer um estudo da sua identidade, definindo-se sobre a pretensão nos aspectos técnico-tácticos para que as contratações respeitem essa identidade.
O Barcelona conquistou um número considerável de adeptos em função da sua forma de jogar. Os jogadores contratados ou formados são com base no seu estilo característico, daí que dificilmente se contrata um jogador que esteja fora dos padrões. É também assim em clubes como Real Madrid, com estilo de futebol dinâmico e pragmático, como também no Manchester United, Bayern de Munique, Manchester City, agora ao estilo que Guardiola decidiu implementar. Aliás, o City é o exemplo do clube que contratou um técnico para mudar o seu estilo, passando este a ser a sua identidade.
Assim evita-se a contratação “avulsa” e desconexa de jogadores, porque existe a definição de características predefinidas para o clube, o que facilita na escolha dos treinadores.
Quando é o contrário, como é o caso de Moçambique, surge o distúrbio pela confusão entre o perfil do jogador e as ideias de jogo do treinador, que resulta, quase sempre, em frustração de resultados desportivos.
Para que a intenção vingue, é necessário que se evite que os empresários de jogadores não tomem a dianteira na formação dos plantéis, pois a perspectiva destes é quase sempre na de puramente “clientilista”, onde o importante, sobretudo, é ganhar dinheiro.
A maioria dos empresários de jogadores não percebe dos fenómenos técnico-tácticos, entre outros. O que lhes move é o lucro e, muitas vezes, ganhar o máximo que se pode, independentemente do critério.
Em muitas ocasiões, os empresários não estão preocupados se a carreira do jogador vai resultar ou se o clube é de perfil adequado para ele. Ignoram que o jogador pode estar a trabalhar com um treinador cuja preferência é outro tipo de atleta, ficando aquele que foi levado ao clube pelo empresário sem hipótese de inserção na equipa. Aliás, é sempre com a anuência dos dirigentes que sem perceber dos contornos técnico-táctico e sem assessoria do departamento de futebol acabam simplesmente por exercer o seu poder de forma arbitrária.
Curiosamente, mesmo sem ter jogado nessa equipa, o jogador com a época frustrada é levado para um outro clube, de igual modo, não havendo interesse se este vai ou não se encaixar no perfil da nova equipa.
Infelizmente, há jogadores moçambicanos que mesmo não fazendo uma temporada aceitável mudam constantemente de clube pela força do empresário no seio futebolístico.
Por incapacidade, muitas vezes, de fazer análises sobre o desenvolvimento de jogadores num determinado contexto, muitos são os clubes que contratam jogadores e já o plantel “montado” escolhem o treinador, incorrendo-se sempre em erros sistemáticos.
A pergunta que surge depois desta explanação é: se o treinador não tem dedo na formação do plantel, por que razão responsabilizá-lo pelos resultados desportivos?
Infelizmente, os treinadores moçambicanos, em grande medida, estão inseridos no sistema que os protege, colocando-os sempre em clubes, não obstante o insucesso desportivo, o que lhes leva, quase sempre, a não contestar o mau dirigismo, sob risco de ver as portas dos outros clubes “fechadas”.