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REPORTAGEM

ESTRELAS QUE PERDERAM BRILHO EM OUTRAS LATITUDES

A carreira de um futebolista é feita de altos e baixos, de momentos bons e maus. A perfomance dita o destino, o percurso, o valor de mercado e o peso do estrelato. O crescimento é proporcional à responsabilidade que o atleta carrega na equipa que representa. Mas nem todo o jogador que se revela ser um talento puro singra quando é chamado a experimentar equipas e ou campeonatos com maior grau de exigência.

Por vários motivos: adaptação cultural, climática, língua, nível competitivo ou até pela crueldade de lesões, as estrelas ficam totalmente ofuscadas, passando de promessas a jogadores banais. Ora, o mundo do futebol é fértil em situações do género, e Moçambique não foge à regra. Dezenas de jogadores atravessaram fronteiras com estatuto de foras de série, mas por lá não conseguiram triunfar.

desafio traz vários jogadores que a partir dos anos 2000, tendo ganhado o estatuto de craques, perderam-no em outras latitudes. Hélder Pelembe, Jerry (este dois primeiros já retirados do futebol), Kamo-Kamo, Neymar, Geraldo, Chelito, Martinho Thauzene, Raúl e Pablo Bechardas (ainda no activo) - todos tinham dado excelentes indicações no Moçambola e pareciam ter tudo para espalhar a classe nos palcos internacionais.

HÉLDER PELEMBE

Foi seguramente um dos avançados mais promissores que, num passado não muito longínquo, apareceu no futebol nacional. Corria o ano de 2009 quando se mudou do Ferroviário de Nampula para o Maxaquene, clube onde fez grande parte da sua carreira. Nos “tricolores” deu cartas nas épocas 2009 e 2010 e indicado pelo técnico português Litos, com quem trabalhou em 2009, foi contratado pelo Portimonense, na altura na I Liga Portuguesa.

Radiante, o jogador acreditava que a sua ida para o Portimonense poderia servir de trampolim para altos voos na sua carreira. Para tal, até contava com o apoio do compatriota Mexer, que tinha acabado de ser emprestado pelo Sporting ao Olhanense, por sinal outro clube algarvio. Mas as coisas não correram bem, Pelembe foi utilizado em 12 jogos, 11 para o campeonato e 1 para a Taça da Liga, tendo manifestado junto à direcção o desejo de sair para jogar com mais regularidade noutro clube.

Mesmo tendo mais dois anos de contrato com a equipa de Portimão, o futebolista, dono de um forte remate, haveria mesmo de regressar ao Maxaquene para jogar mais duas épocas, antes de, em 2013, celebrar contrato com a Liga Desportiva de Maputo.

As prestações do internacional moçambicano despertaram o interesse do Roses United FC, da II Liga da África do Sul, mas só foi de passagem, pois no mesmo ano (2013) iria transferir-se para o Orlando Pirates, o gigante do Soweto. Na sua segunda passagem pelo futebol internacional, dada a sua maior experiência, esperava-se que fosse desta que se afirmaria além-fronteiras, mas em duas épocas no Pirates só esteve presente em 18 jogos, tendo marcado dois golos. Em 2015 foi emprestado pelo Orlando Pirates ao Bloemfontein Celtic. Apesar de ter marcado dois golos em nove jogos, viria a mudar-se, em 2016, para o Baroka FC, também da África do Sul. Na equipa de Polokwane, o avançado passou pela pior fase da sua carreira, estando presente em apenas um jogo em duas épocas. O regresso ao país foi inevitável. No Songo recuperou a alegria de jogar. Foi campeão em 2018 e aposta em 23 jogos e teve um percurso interessante nas competições africanas - UD Songo caiu nos oitavos-de-final frente ao  Berkane do Marrocos -  tendo marcado oito golos.

Mas com o tempo viria a perder gás e no ano seguinte mudou-se para o clube onde se revelou, o Ferroviário de Nampula. Foi nos “axinenes” que terminaria a carreira, já com os seus 32 anos. No adeus ficou o registo de 17 jogos e dois golos.

JERRY

Melhor marcador do Moçambola pelo Ferroviário de Maputo nas temporadas 2009 e 2010, com 16 golos, Jerry Sitoe, ou simplesmente Jerry, foi um dos avançados mais talentosos que o país viu nascer. Quem o visse jogar não ficava indiferente à sua técnica, rapidez, bom remate, aliado ao poder de finalização. Estava-se diante de um artista da bola. Tinha tudo para dar certo em outros campeonatos mais exigentes. A primeira oportunidade apareceu em 2011, para jogar pela Académica de Coimbra. A ansiedade em ver o que Jerry, autor dos dois golos que deram a vitória na inauguração do Estádio Nacional do Zimpeto, a 23 de Abril de 2011, frente à Tanzania, era enorme. Contra todas as expectativas, o avançado, na altura com 21 anos, que tinha chegado a Coimbra proveniente da Liga Moçambicana, não chegou a ser utilizado por Pedro Emanuel e, como tal, a saída era bastante previsível. O facto de não encontrar espaço para jogar, nem na condição de suplente, terá mexido com o psicólogo de Jerry, visto que nunca mais foi o mesmo.

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