Afonso Bunguana Neves, citado pelo saudoso Gonzana, nome artístico de Hassíade Múmino (1932-2006), na faixa musical intitulada “Matateu” (1998), do álbum “Massoriana”, é vangloriado por Gonzana, que, para além de enaltecer a grandeza e os feitos de Matateu, exalta nos seus versos os 32 nomes dos seus selectos amigos da Associação de Futebol Africana (AFA). Considerados colegas de Matateu, destacam-se nomes como Iassine Abdul, Issufo Pesado, Massiquinha, Abdul Gafur, Henrique Brandão, Abdul Kadir Skandar e José Craveirinha. Estas figuras marcaram uma época e com o seu talento lutaram e impuseram-se ao jugo colonial.

Afonso Bunguana Neves, destacado no intróito destas linhas, é o bisavô de Kélvio Mussá Neves, jogador da Associação Black Bulls, que foi chamado pela primeira vez pelo seleccionador nacional de futebol, Chiquinho Conde, para representar a Selecção Principal de Moçambique. Foi precisamente no dia 11 de Março que o jovem internacional sub-20 foi convocado para integrar a lista dos 25 atletas que representarão o país nas próximas jornadas de apuramento ao Campeonato do Mundo de 2026.
Bunguana faz parte da primeira geração do clã Neves, com ligação ao futebol na década de 1950, tendo representado o Ferroviário de Gaza, Munhuanense Azar e a então Selecção Ultramarina de Moçambique. Após ele, vieram os gémeos Mussá e Cassamo (avôs da segunda geração), que se destacaram como jogadores no Clube de Gaza. Esse caminho abriu espaço para Mussá Neves (pai de Kélvio), filho de um dos gémeos (Mussá), um antigo ponta-de-lança que também representou o Clube de Gaza, Irmãos Unidos de Xai-Xai, Atlético Muçulmano e o Clube Ferroviário de Gaza. Mussá, actualmente director desportivo do Ferroviário de Gaza, foi uma das maiores referências do ataque “locomotiva” nas últimas décadas.
Kélvio, por sua vez, avançado de 19 anos, faz parte da quarta geração desta cascata de talentos. Ele nasceu para o futebol e graças ao seu esforço e dedicação mereceu a confiança de Chiquinho Conde para este compromisso de grande responsabilidade.
“Ser chamado à selecção é uma responsabilidade muito grande. Exige muita entrega e dedicação, porque estaremos a representar mais de 32 milhões de moçambicanos. Este momento tem um significado enorme para os meus objectivos como jogador profissional”, disse o jovem jogador, ainda emocionado com a oportunidade.
O artilheiro, que na presente época irá representar o Textáfrica, a título de empréstimo, apresenta-se como um jogador com faro de golo, instintivo, forte no jogo aéreo e versátil em campo.
Nascido numa família profundamente ligada ao futebol, Kélvio é a quarta geração de uma dinastia de talentos que marcou a história da modalidade no país.