Semana passada, o nosso entrevistado na rubrica Rostos & Rastos foi António Marques, ex-presidente do Automóvel & Touring Clube de Moçambique (ATCM). Dada a extensão da entrevista não pudemos publicá-la na íntegra, pelo que as linhas que se seguem vêm mesmo em jeito de conclusão.

Marques guarda boas recordações dos seus quase 30 anos à frente da instituição. Além da competição local, com corridas de karting, carros modificados, “drifts”, organização de troféus monomarcas, motocross, etc., recorda com particular ênfase a reactivação do Fórmula V, com carros da vizinha África do Sul. Não foi tarefa fácil, visto que o país ainda estava imerso em guerra civil, nos princípios da década de 90.
“Devido à instabilidade, tive de pedir escolta ao General Sebastião Marcos Mabote, para que os carros entrassem da fronteira de Ressano Garcia para Maputo sem problemas, o mesmo acontecendo na rota de regresso. Felizmente, o General aceitou o nosso pedido e reactivámos o intercâmbio com a África do Sul”.
De facto, na data marcada militares armados até aos dentes, com morteiros, AKM, etc. foram colocados à disposição do ATCM. “Os pilotos entraram e voltaram sãos e salvos. A despedida foi chocante. Quase todos os pilotos estavam em lágrimas de emoção. Não sabiam o que nos ia acontecer no regresso, mas felizmente também chegámos bem. Em representação do ATCM, eu, Fátima Vieira, Tomásia e Juma é que acompanhámos a escolta”.
Depois, já em tempos de paz, o ATCM reactivou a vinda do Rally Clássico, que era um autêntico desfile de relíquias, com marcas como Porsche, Renault, Citroen, Subaru, Chevrolett, Vauxhall, Mini Minor, Morris, Peugeot, Ford Mustang, etc. eram carros mais virados à exibição do que concretamente à competição.
NÃO PENSO EM
VOLTAR AO ATCM
O ex-presidente resignou em Novembro de 2018. “Já tinha cumprido com aquilo que prometi. Tornei o clube viável, com a construção das bombas da Engen, de um Hotel e do Baía Mall. Deixei o clube inscrito na Federação Internacional do Automóvel (FIA), pelo que era tempo de entrarem outras pessoas com novas ideias”.
Questionado sobre os porquês de ter deixado a presidência depois de um trabalho vistoso, Marques disse, de pronto: “deixei porque não sou político. Os políticos apanham uma cadeira e atarraxam-se a ela. Eu, de livre vontade, libertei a cadeira para quem quisesse ocupá-la. Não tenciono voltar à presidência. Os políticos é que se apegam ao poder, e eu não sou político. Não tenho partido e nem sequer votei em qualquer dos candidatos”.
DESGASTADO
COM DISPUTAS
António Marques está muito desgastado com o ambiente de crispação e de instabilidade que se instalou no ATCM, caracterizado por guerrinhas intestinais, que agora culminaram na formação de uma Comissão Administrativa que vai gerindo o ATCM até à convocação de novas eleições, tudo por falta de diálogo e capacidade de cedência de parte a parte.
Questionado se não seria alternativa para a presidência, Marques respondeu negativamente, afirmando que “no meio destas disputas o senhor João Salomão convocou uma assembleia e 97 por cento dos sócios presentes manifestaram interesse no meu regresso, mas eu disse-lhes que resignei de forma consciente e voluntária. Quem me conhece sabe que tenho uma personalidade muito forte e quando decido não volto atrás”.
Para o nosso entrevistado, o que acontece com as lideranças do ATCM não é diferente do que acontece com as do país. “As pessoas envolvidas não amam o país, porque se o amassem iriam reduzir-se à sua insignificância e procurar o bem-estar, consensos e, como se diz na gíria desportiva, baixarem a bola. As partes não podem privilegiar o eu sei, eu quero, eu posso e eu mando. Devem amar o ATCM, e amar o ATCM é dizer eu saio e o clube continua. Havendo eleições, as pessoas estarão livres de se candidatarem outra vez. Deve ser assim. Essa é a minha escola. Aprendi essa forma de ser e estar na Académica. Em mais de nove anos de praticante de andebol nunca protestámos um jogo, incluindo os jogos de futebol”.