Foram 26 anos de apito. Ajuizou o futebol e os homens nas quatros linhas. Aos 46 anos, João Paulo despede-se do instrumento que o acompanhou durante prolongadas horas da sua vida. Várias emoções denotam-se nas palavras de despedida de um juiz marcado pela história do futebol nacional e internacional.

Apaixonado pelo futebol desde a adolescência, a conexão de João Paulo com o apito iniciou no bairro de Bagamoyo, cidade de Maputo, em 1999. A convite de Xavier Macamo, antigo árbitro, João fez parte da equipa de arbitragem que dirigia torneios de futebol entre jornalistas e governantes. Numa das partidas, João foi convidado a arbitrar o jogo entre os árbitros e jornalistas.
Executou a função com mestria, ao ponto de maravilhar os que acompanhavam o jogo e os artistas em campo. Desde então, o apito tornou-se o seu amigo fiel. No entanto, ainda era um árbitro “amador”. Só em 2000 começou a trabalhar no futebol profissional. Na época, relembra João, não era fácil apitar uma partida.
“Eu fiquei uma coisa de seis meses ou um pouco mais sem ter nenhum jogo. Participava apenas das reuniões e era aconselhado a assistir aos jogos. Então, aprendia assim mesmo como é que devia fazer e como é que as coisas eram feitas. Em 2001 a Associação de Futebol da Cidade de Maputo envia muitos jovens na classe que não tinham curso. Promoveu uma formação, tendo feito, porque felizmente a minha prestação era apreciada por muitos. Nessa época fazia jogos apenas do Campeonato da II Divisão e actuava como árbitro auxiliar”, destaca.
O Moçambola era um dos grandes objectivos de João. Em 2004 foi candidato para a categoria nacional, mas não foi aprovado. Conseguiu ser aprovado no ano seguinte, mas sem ajuizar o Moçambola. “Em 2007 comecei a ser apreciado para fazer jogos do Moçambola, mas entro para o Campeonato Nacional em 2008, como assistente. Rapidamente tornei-me um árbitro de referência e fiquei nos primeiros lugares na classificação nacional. E por via disso, fui candidato para árbitro-FIFA nesse mesmo ano”, disse.
Apesar do grande desempenho, João só foi aprovado para árbitro-FIFA em 2009. No mesmo ano foi nomeado segundo melhor árbitro assistente do Moçambola. Em 2010 fez parte do quarteto que apitou a final da Taça de Moçambique, e em 2011 esteve na final da Supertaça, sendo que em 2012, 2013 e 2015 voltou a fazer parte da equipa da final da Taça de Moçambique. No meio desse todo trajecto, de sucesso, foi nomeado melhor árbitro assistente do país em 2013.