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LINHA DE PASSE

QUEM TIRA BENEFÍCIOS DO CALENDÁRIO ACTUAL?

Antes de mais, permitam-me saudar a todas as mulheres moçambicanas pela comemoração do seu dia. Felizmente, mesmo sem equidade efectiva nos sectores de decisão no ramo desportivo, nota-se, cada vez mais, a presença de mulheres a impor a sua marca, abrindo espaços para a inserção feminina no quotidiano desportivo.

Indo directo ao ponto, recordo que na nossa edição anterior conduzi uma Reportagem que fez concluir que os clubes querem a mudança de calendário, embora, a priori, pareça uma luta inglória. 

A esse respeito, ouvimos também a Federação Moçambicana de Futebol (FMF), na voz do seu secretário-geral, que não quis assumir se era “carne ou peixe”, embora nas entrelinhas ficou visível a intenção de manter tudo como está, com a ladainha dos perigos do tempo chuvoso.

Um dos intervenientes lembrou que Moçambique não é o único país que tem sido assolado por temperaturas altas, chuvas e ciclones, mas muitos outros países mudaram o calendário, adequando-se ao calendário “imposto” pela FIFA e CAF. Um outro interlocutor referiu que na Europa há países que passam por um Inverno rigoroso e encontram soluções viáveis às competições.

Dos prejuízos do actual calendário, alguns interlocutores estabeleceram a ligação à goleada sofrida em Argel, frente ao combinado argelino, a falta de rodagem dos jogadores que actuam no Moçambola, esquecendo-se que com esses mesmos jogadores Moçambique, dias antes, deu um correctivo significativo ao Uganda, que no passado goleou o nosso combinado (4-1).

Foi também referido que a mudança poderia dar vantagens aos representantes moçambicanos nas Afrotaças, mesmo iniciando as competições com rodagem, por estarem entre a oitava ou décima jornada do Moçambola, mas “quando se chega a meio da Fase de Grupos os adversários estão mais rodados e as equipas moçambicanas no defeso”. A outra grande desvantagem é o facto de o período das transferências de jogadores não se ajustar ao período internacional, numa altura em que é mesmo necessário optar por mais elementos ou mesmo quando se deve vender um activo.

A federação fez referência a uma verdade dura para os clubes e gestores do Moçambola, realçando que a época não é suficientemente capitalizada e que mesmo mudando o calendário o campeonato pode não arrancar dentro do previsto, um facto que perde alguma força na luta pela alteração. Ou seja, há muitos períodos vazios na época, que demonstram algumas fragilidades organizativas.

Os clubes têm a consciência do impacto negativo que pode ser criado pela mudança, mormente o lado financeiro, sobretudo pela previsão de remunerar os profissionais por certos meses e ganhar outros quatro ou cinco e sem puder fazer grandes alterações ao plantel. Resumindo, sobre este ponto, repara-se que há consciência de que mudando ou não o calendário haverá prejuízos financeiros.

Os argumentos esgrimidos pelos clubes foram para mim, como para muitos desportistas, demasiadamente suficientes para mostrar que a mudança pode trazer benefícios para o futebol moçambicano. Ainda assim, diante deles, há, infelizmente, quem pense que tudo pode continuar como está.

Percebe-se igualmente que não basta apenas a intenção dos clubes, se as associações onde estes estão filiados não os apoiarem. Aliás, ao que tudo indica, vai prevalecer a aliança entre as associações e os clubes ou equipas que disputam a “segundona”, com o argumento das dificuldades nas deslocações, pelo mau estado das estradas, quase intransitáveis no período chuvoso.

Os clubes do topo do futebol nacional, ajuntando-se a outros desportistas, em voz baixa falam que essas associações só se destacam no papel de fazer a diferença na votação da decisão de quem vai ou não presidir a federação durante um certo mandato.

Percebo que a intenção dos clubes vai continuar a “bater na barra” e “sem possibilidades de recarga”, mas os “ataques” parecem ganhar mais acutilância. A procissão vai no adro.

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