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o moçambicano Bento Navesse é um dos mais respeitados instrutores-FIFA em África
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PODEMOS MELHORAR E CRESCER MAIS!

Sempre assumiu com frontalidade que o país não deve vender mentiras à Federação Internacional de Futebol (FIFA) e Confederação Africana de Futebol (CAF), pois sempre deu crédito aos árbitros que se apresentam fisicamente preparados nos rigorosos testes de aptidão física.

Bento Tomás Navesse, um dos mais respeitados instrutores-FIFA em África, com uma vasta experiência adquirida como treinador de base de atletismo e instrutor da Confederação Africana de Futebol (CAF) e da FIFA, concedeu uma entrevista ao desafio, na qual analisa o estado da arbitragem em África e, particularmente, em Moçambique. Navesse é também instrutor da IAAF (atletismo) e preparador físico de renome internacional.

Quando questionado sobre o estado da arbitragem no continente africano, Bento Navesse destacou os progressos significativos que têm sido alcançados nos últimos anos, embora reconheça que ainda há um longo caminho a percorrer.

“O nível de arbitragem em África está num processo bem evoluído, bem rápido, e está a andar numa proporção muito boa. É claro que temos sempre de pensar em melhorias, porque nunca atingimos a perfeição. Contudo, o que importa é que a evolução seja notável. E é isso que estamos a assistir: estamos num caminho promissor, mas ainda longe do topo. A juventude africana tem mostrado um enorme empenho, e a CAF está a trabalhar intensamente na formação de novos talentos, o que é de saudar”.

Sublinhou ainda o papel crucial das formações regulares promovidas pela CAF, que têm permitido o desenvolvimento de árbitros qualificados em todo o continente.

Fazendo uma radiografia da arbitragem no seu país, Moçambique, Bento Navesse destacou os esforços do actual presidente da Comissão Nacional de Árbitros de Futebol (CNAF), Francisco Machel, mas apontou que há ainda muito a ser feito.

“Moçambique tem mostrado mudanças positivas que merecem ser reconhecidas. O novo timoneiro, Francisco Machel, trouxe uma abordagem estratégica, com foco na renovação e no envolvimento da juventude. No entanto, é evidente que ainda há muito trabalho pela frente. Precisamos de melhorar continuamente e sair da zona de conforto para alcançar níveis mais elevados”, avaliou.

Navesse apontou também a importância da continuidade dos testes físicos e da manutenção de uma cultura de treino entre os árbitros, destacando que a falta da mesma tem sido um dos grandes entraves ao progresso.

Reprovação massiva nos testes

Físicos

Outro problema apontado por Bento Navesse é a reprovação massiva de árbitros nos testes físicos nacionais, algo que ele atribui à ausência de uma cultura de treino consistente.

“O nosso árbitro não tem cultura de treino. A maior parte só começa a preparar-se três ou quatro semanas antes dos testes físicos. Isso é insuficiente. Moldar o corpo exige disciplina e preparação contínua. Sem uma mudança de mentalidade, continuaremos a enfrentar reprovações e falta de árbitros qualificados”, alertou.

Para resolver este problema, sugeriu medidas mais rigorosas por parte da CNAF, como condicionar as nomeações de árbitros ao cumprimento de um número mínimo de treinos.

África no Mundial de Clubes

A integração das mulheres na arbitragem tem merecido destaque em África e em Moçambique. Navesse elogiou os esforços da FIFA e da CAF nesse sentido, mas alertou para desafios específicos no contexto moçambicano.

“A nível de África, a integração das mulheres na arbitragem está a avançar bem. Por exemplo, na edição deste ano do Campeonato Africano Sub-17 tivemos entre 12 e 15 árbitras, incluindo assistentes e centrais. A final foi apitada por uma mulher, o que é um grande orgulho para a zona do COSAFA, que represento”, explicou.

Por outro lado, em Moçambique os números ainda são muito baixos e há uma carência de árbitras com dedicação e profissionalismo.

“Temos um número muito reduzido de árbitras no país. É preciso incutir nelas a cultura do treino e criar condições para que mais mulheres ingressem na arbitragem. Ainda é um grande desafio tirar as mulheres de casa para os campos. No Moçambola, por exemplo, temos menos de três árbitras, o que é um número alarmante”, lamentou.

Sobre os 12 árbitros africanos seleccionados para apitar o Mundial de Clubes deste ano, Bento Navesse considerou o número justo, mas deixou claro que há potencial para que esses números cresçam no futuro.

“É um número justo, considerando a necessidade de equilíbrio entre as várias confederações. No futuro, é claro que queremos mais árbitros africanos a participar, mas é importante lembrar que todas as confederações precisam de oportunidade. Isso deve ser um objectivo a longo prazo”, afirmou.

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